sexta-feira, 16 de maio de 2008

Embalagem

Teu segredo eu guardo em meu corpo, e aqui o mantenho e o espremo e condenso e o filtro e o côo e assim o degusto, e de glândula em glândula o vou passando, sentindo cosquinhas assim meio que eletromagnéticas, e as pessoas conseguem ver nos meus olhos o exato trajeto, meu ouvido direito pulsando por tua respiração e minha boca entreaberta (tudo isso guardo em meu corpo, as pessoas vêem pelos olhos, e no trabalho deslizo teu segredo para as paletas, eu sou Atlas em forma de estivador e ergo nas costas o peso do mundo, e eles vêem o que tenho aqui dentro - o teu segredo bem guardado, parcialmente decomposto pelos meus músculos) e daí meu corpo de tanto segredo e de tanto suportar o mundo me pede um cigarro e eu o levo a boca e meus dedos, de tanto ir lá dentro de ti buscar mais uma pista sobre teu segredo e de tanto manuseá-lo nas pontas dos nervos das unhas e nos cabelinhos dos dedos me imploram por ti e teu cheiro com o do cigarro.
E o teu cheiro que veio junto com esse segredo e com esse outro cheiro da china que se esconde atrás desse véu de princesinha, de rainha, de dona de todas as coisas; o teu cheiro não guardo, já o conheço. E de noite eu e tu e teu segredo e teu cheiro e tudo o que existe nos encontramos, e acima do teu corpo quero dependurar meus beiços e em ti babar o teu segredo que passou o dia de glândula em glândula sem ser resolvido. Eu não preciso de abrigo, pois se chove ou faz frio dentro de mim me enfio atrás do teu segredo, e neste pedacinho de ti não há medo e me escondo nessa filial do teu ventre, e de noite te babo e me escondo desta vez em ti, para de uma vez dentro de ti jorrar esse teu segredo. Eu, que em meu corpo guardo teu segredo e tu, que em teu corpo me tens por inteiro.

Autor: Guilherme Floco Mendiccelli

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