sexta-feira, 16 de maio de 2008

Apresentação mui subjetiva do CEL


A sala do CEL é assim: miúda, um sofá na extremidade inversa à porta, duas cadeiras estofadas, uma prateleira com livros, uma mesa com dois computadores. É o centro dos estudantes da Letras, no entanto.

Sua exigüidade é uma realidade contestável. Seu espaço físico é sobreposto pela fraternidade imperante. De fato, uma atmosfera embevecedora, qual o vinho que acalma os tormentos. Ou qual o manto de lã que, no inverno, aquece os homens. O CEL é tri, na real.

Se poucos - ou mesmo nenhum - estudantes são cientes de que o Centro é de fundamental importância para eles, uma vez que é sua voz nas reuniões de funcionamento do Curso, muitos letristas passam pelo querido tugúrio diariamente. Procuram café, impressão, uns acordes no violão e o bom papo-furado. Ou mesmo discussões profícuas. Já discuti o Caos com o Funck lá. Não que isso tenha sido profícuo.

Cuido interessante falar um pouco acerca dos membros do CEL. A gestão é mesmo formada por amigos. Vãs politiquices são vilipendiadas; pode-se dizer que somos uma gestão artística, colhendo o fruto íntimo de cada estudante, desdobrando-o num ideal comum. Ó, mas como é bom entregar uma carteira de ônibus a um estudante, ou vê-lo satisfeito quando de uma impressão de trabalho! Mesmo nossa objetividade é regozijante.

O Lucas que é pragmático. Tá nas Finanças. Quem ainda não o viu contando o dinheiro, precisa ver. As notas separadas por valor sobre a mesa, ele debruçado sobre ela, corpulento, circunspecto, austero. Causa impressão. Não fale com ele em tal momento: dedica-se por completo à tarefa. Imagino o Lucas indo cobrar uma dívida com outro DA. Um mafioso italiano, frio, sanguinário, o revólver sob o paletó. Mas qual nada, o cara é afável como um castratti. Quando eu me exaspero, e escrevo um ofício chamando alguém de boçal, ele senta-se ao meu lado e procura me mostrar o equívoco. É, com efeito, diplomático.

Não lançarei olhar de esguelha para os senhores Tedi e Nicolau. Estão certos. Vejam, novidade sempre é atraente. Conciliam bem os afazeres do DA com suas pombinhas gorjeantes. Não raro estou ali no CEL, bebendo um cafezinho, dando uma olhada por cima nalguns poemas de Baudelaire, ou talvez de Whitman, e noto que a armadilha já está posta. Nicolau queda o traseiro na cadeira, esperando. Eis então que surge o desavisado passarinho, indefeso, perdido. Vai bicando pelo rastro ardilosamente deixado pelo caçador, vil e sublime engodo da beleza humana. É então que, ai!, ele puxa a cordinha e prende o animalzinho. "Já viste ali, pequena?", e aponta para um cartaz colado na porta, "Festa na Toca, vai ser quarta... Esteja lá, viu?"

É a mofa que move a vida do bronco e multifacetado artista Nicanor. O mesmo homem que aponta as belezas num Toulouse-Lautrec organiza, de uma idéia surgida em certa madrugada de bebedeira, o Vale-Tudo da Letras. Homem que faz boxe e escreve sobre o amor. E toca violão. Também é sujeito que se apraz na troça. Agrada-lhe exaltar as baixezas dos outros. Certa feita, veio-me com esta: "Não dá mais pra chorar as desgraças no nosso século 21, isso é coisa de romântico oitocentista... O negócio é rir de nossa abjeta situação."

"Tu ficas ali na volta, dizendo, 'quero te comer, quero te comer'. Um dia, ela tá lá, carente, desprezada pelo amado, e te dá. É assim que funciona a coisa", disse-me o Funck quando eu o admoestei por causa de sua impudicícia com uma dama, o que me parecia debalde e ofensivo. Pode até ser. O Funck tem, com efeito, uma visão "absurdista" da realidade; subverte-a ao artificial.

O Raôni ainda é minha melhor influência. Tem uma bela desenvoltura nas inter-relações humanas, consciencioso, hábil e crítico. Extremamente cético, espezinha tudo que tenha aspirações transcendentais, inclusive a mui dogmática Universidade. É, todavia, cortês. Se a menininha do CEL quer ver o mundo pelo prisma do horóscopo, ou ainda que se acredite um ser especial, deveras crente em metafísicas, muito bem, deixemo-la, mas nós sabemos que não é assim, que isso tolhe a percepção consciente do mundo, mitiga o poder do Eu.

O Raôni filosofa por aforismos. Não raro, estou amofinado, sem saber ao certo o que me aborrece, irrequieto e mesmo angustiado. Fico lá a um canto, sorumbático, um vem e me pergunta o que tenho, e eu não sei responder e me apoquento ainda mais. E é o Raôni que, com suas frases concisas e secas, dá a medida certa do que está passando. “O cara...”, ele costuma se referir assim ao Homem.

Bom, o CEL pode mesmo ser muito mais que isso que eu referi aqui, além do que eu me esqueci de dizer, do que eu, açodado no afã de entregar este texto aos já iracundos coordenadores- gerais Tedi e Nicolau, tive que preterir – por exemplo, deixei de falar no talentoso intelectual Presidente do CEL Floco Mendiccelli, o que me é pesaroso – e estou certo de que é mais, mas fico por aqui, e espero que tenham gostado deste rápido panorama feito do meu ponto de vista acerca do nosso Centro.


Por Bruno Said Oyarzabal (membro da gestão CEL 07/08)

6 comentários:

Unknown disse...

tá o sorumbático, muito bom o texto.
faltou falar que o Raôni é o homem ideal.

Mari disse...

"Bela desenvoltura nas inter-relações ... É, todavia, cortês."

inter-relações, said?! quer me matar do coração!

said é gênio, raôni é perfeito
mas faltou falar que precisamos de pó

(pro café)

Amy Mizuno disse...

Bravo, tesouro, bravíssimo...

hauhauhauahuahau

Nícolas Poloni disse...

acho que seria de bom grado que as marianas (caso recorrente), assim como as julianas (caso que pode ocorrer) se identificassem com sobrenome ou a partir de qualquer outro meio para sabermos qual das ditas está se pronunciando.

obrigado

e quanto ao texto, devo avisar que não sou sorrateiro como descreveu Bruno Said. não com atitudes como as descritas. =)

Mari disse...

eu sou a Mari, ué!
e a Ju é a Ju! ué!
as únicas que podem não gostar das inter-relações entre said e raôni...

Amy Mizuno disse...

hahahaaha, isso mesmo, Mari.
E eu nem tô com meu nome, tô com meu nick... aff...
amy_mizuno = juliana camargo (melhor?)

(alguém poderia retirar esse verificador de palavras?)

Gostaria de deixar registrado a nota de repúdio ao tom machista do texto - elaborada numa madrugada de profícua discussão filosófica com a Mari e a Aurora. =P