segunda-feira, 7 de abril de 2008

Parthenon

Teus olhos. De que cor são? Fosse eu menos observador (e, conseqüentemente, menos apaixonado), afirmaria que são cor-de-pistache. Mas nasci para quê, senão para (in)definí-los? Que tipo de Criador é este, capaz de criar tal paradoxo cromático, tal oxímoro sensorial? Teus olhos: a prova que Deus existe (e, conseqüentemente, a prova que Deus não existe). Obviamente eles são resultado de uma investida proposital na evolução natural da vida: essa cor. Que cor é essa dos teus olhos, esses lábaros contraditoriamente ateus de desespero? É como fosse um moto-perpétuo do verde ao castanho, da esmeralda ao carvalho. Não há cor, diriam. Digo: Há em demasia. Teus olhos são da cor dos teus olhos como as rosas são cor-de-rosa, sejam elas brancas ou vermelhas. Teus olhos: meu oroboros.
Os cílios dos teus olhos (ou melhor: os cílios que rodeiam teus olhos, porque teus olhos são tão poderosos que sinto que tudo é deles; todos os olhos, todos os cílios, tudo e, conseqüentemente, eu mesmo). Teus cílios. Começam brancos (não branco cor-de-cílios-brancos e, conseqüentemente, cor-de-todos-os-cílios, sendo axiomática a teoria que o branco é a união de todas as cores. Exceto, é claro, a cor dos teus olhos.) e terminam pretos (não preto cor-de-preto, mas preto-ausência-de-todas-as-cores, inclusive a dos teus olhos). Teus cílios: em poucos milímetros gastos entre comprimento e espessura, trespassam todo o espectro cromático perceptível. Perfeitamente paralelos, fossem infinitos (aliás, talvez o sejam) nunca se tocariam, e abraçariam o universo (feito para qual não é necessário muito, visto que o universo se resumiria ao espaço entre teus cílios). Teus cílios: pilares do Parthenon pós-moderno: teus olhos – morada de todos os deuses e todo Deus.

Autor: Guilherme Floco Mendiccelli

2 comentários:

Nícolas Poloni disse...

Muito melhor que Leoni.

Unknown disse...

Muito bom.

Quase uma tese.