domingo, 23 de março de 2008

O Baile

- Apesar de que te desagrade, um passo pra trás é um passo pra trás, um passo para frente é um passo pra frente, e não é simples, pois ao teu passo para trás devo responder com um passo adiante, a minha direita é a tua esquerda, tua esquerda minha direita, quando um diante do outro, e não é tão simples, mas estamos juntos, estamos dançando, e eu te acompanho, mesmo que certos movimentos teus me pareçam vazios de significado, incompreensíveis mesmo, acompanho desajeitado, atencioso, e de tanto errar aprendemos um passo novo,e fica tão fácil depois que se aprende, tão bom de dançar. Claro que não somos grandes bailarinos, eu bronco, tu tímida, mas eu gosto de dançar contigo, simples - sem saltos e piruetas, tantos finais trágicos -, sentir teu corpo perto do meu, eu e tu, nós dois, sem exibicionismos acrobáticos, pois ninguém precisa saber de nós, o quanto nos acertamos e dasacertamos, somos eu e tu, somente. Todo mundo entra neste baile e tanta coisa acontece por aqui, meninos e meninas de olhos surpresos e mãos curiosas - eu também já fui menino - pares desencontrados, ajustados -estes mais raros e discretos- , bonitos e feios e quentes e apagados e tantos e tantos, e tantos mais sozinhos, sozinhos-procura, sozinhos-par, sozinhos-acrobatas, sozinhos-sozinhos, uns no bar - eu também já estive lá , boca seca, balcão e cotovelo -, outros caminhando, outras esperando, olhares e olhares, medo e vergonha, homens dançando com homens - e a suavidade ?- mulheres dançando com mulheres - e a força? - e tudo e todos procurando um ritmo, um mesmo compasso, mas aqui não tem música, e talvez eu esteja aqui imaginando um tango, tu uma valsa, demora acertar, temos de condescender, senão fica impraticável, ou quem sabe, exótico. Minha vó diz, quando dançava, caso o par errasse, ela errava junto, isso que é saber dançar - apesar de que erraram tanto que ela acabou se perdendo. Agora já estamos dançando melhor de novo, não é fácil, tem que prestar atenção, esquecer os outros, talvez tu esteja aqui, mas pensando em outro que te tire pra dançar a valsa que tu sempre quis, um valsista e tanto, mas valsa é tão monótono, e pode ser outra coisa, com mais ritmo, pode ser melhor, se nos concentrarmos na gente, dançaremos melhor do que tantos outros aí, uns que não se acertam, outros que nem par tem, se eu ficar espiando por cima do teu ombro, te piso no pé e acabo te machucando, e é por isso que tem que se dedicar toda a atenção, e continuar dançando, cada vez mais perto, cada vez mais certo, como se houvesse música.


Autor: Vinicius Camargo

http://www.contosvinicius.blogspot.com/

2 comentários:

Mari Tita Santana disse...

Gostei Nicanor...Até parece tu dançando sem músca em pleno Ossip...

a lana disse...

porra
mandou bem